Meu Cantinho

Eu precisava urgentemente de um lugar onde eu pudesse "guardar" frases que leio ou escuto por aí, e não as quero esquecer... Poesias, textos, pensamentos... As mais variadas coisas que encontro tanto no mundo virtual, quanto real. Quero guardá-las aqui. Não é apenas um "blog". É um reduto onde há muito carinho. Se você gostou, faça-me companhia. Amigos e simpatizantes são bem vindos.

Apenas se vê bem com o coração, pois nas horas graves os olhos ficam cegos. (Exupéry)

sábado, 26 de janeiro de 2013

Desapegos...


Interessante como as coisas acontecem comigo, quase como se fosse "coincidência"... Como eu não acredito sobremaneira nas coincidências, farto-me de admirar como até as coisas mais corriqueiras têm uma razão de ser.
Ontem eu estava pensando nos meus "desapegos" materiais.
Chegar a este ponto de desprendimento não foi nada fácil. Foi algo que aprendi a duras penas, no percurso de minha vida até o presente momento.
Ontem eu pensava nessas coisas. Em minha vida, como tive de deixar para trás as coisas materiais simples, mas que eu tinha apego especial. As coisas que tinham valor estimativo... Tive de deixá-las. Deixar minha casa que já tinha o "meu jeito", deixar "trecos" que guardei comigo por tanto tempo. E Deixei. Deixei tudo. Decidi começar do zero em outro país.
...E também lá (nesse outro país), apeguei-me a alguma coisas. Nada que tivesse valor material, mas eram "minhas coisas". Minha casa... Minha sala decorada com nosso jeitinho... Tudo enfim... Livros, roupas, bibelôs... Mais tralhas. Tralhas que já representavam objetos de "apego". Tive de deixar tudo novamente.
Deixei mais uma vez minha casinha com nosso jeito. Vendemos tudo. Tudoooo. Até as cortinas se foram. Restou-nos a esperança e vontade de recomeçar. Mudar carece de muita coragem.
Cá estou, em outro país (mais um) que nem em sonho pensava em vir morar, muito menos pensava em gostar tanto.  
...E daqui, de onde estou, olho para trás e vejo que tudo aquilo que eu tinha "apego", nada disso representa mais nada. Não me faz falta. Não faz diferença no meu hoje. Todas as coisas que realmente fazem diferença em minha vida, continuam comigo: Meus amores, que são minha família, meus amigos, as pessoas com as quais convivi... Todas elas vieram comigo ou estão comigo de alguma maneira. Todas se fazem presentes. E é isso que realmente importa em nossa vida. 
Ainda me lembro de meu vaso amarelo que eu tanto gostava. Mas ele não me faz falta.
Ainda me lembro de minha escultura de africana, com um pote na cabeça. Mas ela não me faz falta.
Ainda me lembro do meu livro O Poder do Subconsciente. Mas ele não me faz falta. Posso comprar outro.
...
Depois dessa reflexão assim como vocês estão lendo, fui abrir meus emails, e eis que encontrei lá um email enviado por uma amiga, que diz com outras palavras (ou talvez até as mesmas), tudo isso que acabei de relatar. Meus apegos e desapegos.

Falo do texto da Martha Medeiros. Ei-lo:

Vende-se Tudo (Martha Medeiros)

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo oque ela tinha em casa, pois a família voltaria a m...
orar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentad os que alguém aparecesse.
Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi.
Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto.

Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.

No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.

Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.
Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.

Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.
... só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir.
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