Meu Cantinho

Eu precisava urgentemente de um lugar onde eu pudesse "guardar" frases que leio ou escuto por aí, e não as quero esquecer... Poesias, textos, pensamentos... As mais variadas coisas que encontro tanto no mundo virtual, quanto real. Quero guardá-las aqui. Não é apenas um "blog". É um reduto onde há muito carinho. Se você gostou, faça-me companhia. Amigos e simpatizantes são bem vindos.

Apenas se vê bem com o coração, pois nas horas graves os olhos ficam cegos. (Exupéry)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Meus lindos depoimentos...

Tia, sinto muita saudades de vc,  és uma pessoa especial...
temos uma afinidade mto grande, tenho um carinho enorme por vc,
afinal vc q me criou, por sua existência sou uma garota forte e robusta! hauhauhua
(Lembra qdo me disse isto por telefone??)
Além de tudo é uma grande palhaça,  brincalhona (no bom sentido, é claro)
mulher vaidosa, elegante, modernaaa! rs tudo de bom!!
Estamos afastadas geograficamente, porém meu carinho e consideração não mudam


BjOs de sua sobrinha
Renata     04/12/07

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Tia!!!
Eita Sardade!
Do café q nóis tumava
Do pão q nóis murdia
Do povo q nóis falava
Todo finalzim de dia

Chega dá agonia
Daquilo tudo lembrar
Eu te peço minha tia
Cuida logo in voltar

Venha ao menos passear
Nesse nosso continente
Vir aqui nos visitar
E deixar nóis contente

Tu sempre fosse descente
Cum as amizade sincera
Deixou sardade na gente
Do povo que te espera

Vem tia! Manera
A sardade que eu tenho de ti
Junta tua galera
Vem passar uns dia aqui

Pra mode eu te pedir
Uns conseio que tu dava
Eu ia só repetir,
Mermo assim tu me escutava

Da vida me queixava
tu: é assim mermo Diel
Mas a raiva num passava
E a agonia era cruel

Pra ti tiro o chapéu
Que tu tivesse corage
Sei que aí num é o céu
Nem sei suas vantage

Envio essa mensage
Que a sardade é de lascar
Dessa tua maganage
Que eu fico a recordar

Num foi pra cassuar
Nem pra mode entristecer
Eu comecei a me lembrar
E deu vontade de escrever

Num tem como esquecer
Tu és querida, tia
Tu faz farta de morrer
Por isso essa poesia!!!


Daniel,   13/11/08

Bjuuusss
Tia, eu sei q tu até já pediste pra ñ recordar as coisas daqui, que só fazem tu sofrer de saudade!Mas é pq deu uma saudade de tu esses dias. Daqueles momentos q a gente comia pão com manteiga e café que tu fazia na horinha, enquanto a gente comia tu ia ouvindo meus problemas, eu ia ouvindo os teus e ria e brincava etc... Nossos ouvidos pareciam dois pares de pinicos!!! Mas era bom viu!
Aí num resisti e escrevi. Mas me desculpe viu mulé!!!
Tia bjuuuuuuuuuuuuuuuuusssssssssssssssssssssssssssssssss!!!
Tô morrendo d saudade tua!

Daniel.
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Avião sem asa,
fogueira sem brasa,
Sou eu assim sem você.
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola,
sou eu assim sem você.

Tee amoo tiia!!!

Taline 15/02/3/2009

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simplesmente...te adoroo

tiiaa mais que perfeita...
saudades minha flor!!!

bjão

 Flávia, 27/08/08
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Irlanda é quase sempre sinônimo de alegria... é muito irreverente mesmo, extrai humor das coisas mais inesperadas. Além disso, ela tem uma infinidade de qualidades louváveis e defeitos suportáveis kkk ... fato é que ela é honesta, inteligente, sagaz, generosa, rasoavelmente organizada e muitíssimo ligada à família (o que eu acho corretíssimo).
Mas, como nem tudo são flores, essa minha prima é uma anfitriã fraca e tem um gênio terrível, quando é contrariada.
Somos um pouco diferentes, mas eu a admiro e amo muito!

Dondinha, cada vez me convenço mais da singularidade dos nossos momentos de cumplicidade, de amizade verdadeira...de uma amizade que nos permite ser exatamente o que somos; revelarmos nossas fragilidades, medos e sonhos... revelarmos ainda o que temos de pior: o famigerado período de TPM kkk.
quero que saibas que tenho em minha mente cada uma de nossas conversas apaziguadoras, repletas de afeto e que mesmo tendo consciência de que tua ausência me deixará triste algumas vezes, eu torço por tua ida, pela tua felicidade!
que Deus te conceda o melhor que a vida puder te ofertar.
Abraços da prima e amiga
Joseni (eternamente Dona JÔ)  29/05/2008

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sem ironia, tua cara

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

(Vinícius de Moraes )


Gilvanete 06/01/2009
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Não sei se é poema, mas já que resolveram deixar mensagens em rima...e eu não me lembrei de nenhma completa...achei esta nos meus arquivos. então vai ela mesmo...rsrsrsrs kkkkk
Admiro o pica-pau
na madeira do angico
bate aqui, bate acolá
tóco, tóco, tico, tico
nem sente dor de cabeça
nem quebra a ponta do bico
.

Ivanira,  21/02/2009

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Todo mundo deixando poema, vim deixar o meu também No alto daquele cume plantei uma roseira
o vento no cume bate a rosa no cume cheira....
Quando cai a chuva fina a terra no cume amolece
o barro do cume desce
o mato no cume cresce ....
ahhhhhhhhhhhhhhhh era tão grande e tão bonitinho mas não consigo lembrar grrrrrrrrrr não lembro mais não!!
que pena TÃO LINDO!!!!!!!!!!!!!


Vanuza,  19/02/2009

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Querida Irlanda.
Creio que todos os teus amigos aqui do Brasil vê em ti, um exemplo de coragem, perseverança , determinação e, sobretudo, um ser agraciado por Deus.E se hoje és um ser agraciado por Deus deve-se ao fato de seres merecedora.
Creia-me , a tua história nos encoraja a prosseguir lutando por aquilo que acreditamos: no amor sem limites capaz de vencer espaços, tempo e distância de forma real, diferente de contos de fada.Portanto anjo, essa tua felicidade nos faz feliz e nos encoraja á perseverança no bem, e no amor.
És uma mulher bem aventurada entre a maioria das mulheres.Agradeces a Deus sempre, pois consequentemente essa tua felicidade será espalhada aos teus amigos e para todos os teus entes queridos.Deus abençõe a ti e a toda a tua família.Saúde, paz, harmonia e muita, muita felicidade mesmo!Beijos de luz em teu coração.
Da amiga e eterna admiradora.

Marta. 07/03/2009

domingo, 29 de maio de 2011

Trechos do livro "ANJOS NOS MEUS CABELOS" (Lorna Byrne):


CAPÍTULO I ( Com Outros Olhos): "...Na realidade, todos os bebês vêem anjos e espíritos mas, quando começam a falar, ensinam-lhes o que é e não é real e assim, se as coisas não forem sólidas como os brinquedos, aprendem que são a fingir..."
"...Deus quer que sejamos felizes e gozemos a vida e é por isso que envia anjos para nos ajudar. Temos tanta ajuda espiritual à nossa disposição e, embora algumas pessoas a procurem, a maioria não o faz. Eles caminham ao nosso lado e dizem-nos que estão ali, mas não os ouvimos. Não queremos ouvir. Achamos que podemos fazer tudo sozinhos. Esquecemo-nos de que temos uma alma e achamos que somos feitos só de carne e osso. Acreditamos que não existe mais nada,  que não há vida depois da morte, nem Deus, nem anjos..."
"...Os seres humanos são muito mais que carne e osso e, à medida que tomamos consciência disso e começamos a creditar que temos uma alma, a ligação com os anjos desabrocha.
Acredite ou não, no momento em que está a ler este livro há um anjo ao seu lado. É o seu anjo-da-guarda, que nunca o abandona."
"...O seu anjo-da-guarda é guardião do seu corpo e da sua alma. Foi-lhe atribuido mesmo antes de ser concebido. Enquanto crescia no ventre de sua mãe, ele estava sempre consigo, a protegê-lo. Depois de nascer, e quando cresceu, nem por um instante o seu anjo-da-guarda saiu do seu lado."
"...Você nunca está sozinho. Mais tarde, quando morrer, ele estará junto a si para o ajudar nessa travessia. O seu anjo-da-guarda também deixa que entrem outros anjos na sua vida para o ajudar em várias coisas. Vão e vêm. Chamo-lhes anjos professores..."
"...Como já disse, os anjos estão presentes para nos ajudar e, à medida que  vamos conhecendo a sua existência, começamos a sentir o seu toque nas nossas vidas. Os anjos tocam-nos sempre, à espera que pecebamos que ali estão. Querem que você compreenda que a vida tem muito mais do que aquilo que parece. Não a vivemos sozinhos. Podemos existir num corpo humano, mas cada pessoa possui uma alma ligada a Deus. Os anjos também estão ligados a Deus. Assim que invocamos o nome  de Deus, conferimos poder aos anjos.
Por outras palavras, damos-lhes poder para que eles nos dêem poder a nós. Deus deu-nos o livre-arbítrio e os anjos não descuram desse facto. Se os enxotarmos e lhes dissermos que não queremos a sua ajuda, Deus e os anjos deixam-se ficar de lado. Mas não se afastam completamente, antes ficam à espera nas redondezas..."

CAPÍTULO III ( Escadaria para o Céu ):

"... -Estás a ver aquele tentilhão maravilhoso, com cores douradas, amarelas e azuis? Esse pássaro é como Deus. Olha bem pra ele, vê a sua beleza e perfeição. Tu és como o pássaro. És linda, porque és como Deus. Se ele cair e se magoar, não sentirá toda a dor da queda, porque Deus sente noventa e nove por cento dela. Deus sente tudo o que se passa em cada pássaro que existe, e o mesmo se passa connosco. Quando alguma coisa acontece que nos magoa, só sentimos uma fracção dessa dor. Deus sente o resto e leva-o para longe..."
"... Adoro igrejas. Estão cheias de anjos. Pode estar apenas um punhado de pessoas, mas há sempre uma agitação e um sussurro entre anjos. As pessoas não se apercebem de quantos anjos estão numa igreja, louvando a Deus e esperando que os seus fiéis entrem e se juntem a eles, mas isso quase nunca acontece. N missa de domingo, o local fica repleto. Há anjos-da-guarda com toda a gente, à volta do padre no altar e muitos outros enviados por Deus. As igrejas são locais com muito poder. Quando vejo alguém rodeado de anjos de luz, rezo:
- Por favor , que hoje essa pessoa oiça seu o seu anjo, que de alguma forma o contacte e, através dele, que fale com Deus.
Os anjos não se encontram apenas nas igrejas cristãs, mas também nas sinagogas, nas mesquitas e em todos os locais sagrados. A religião de cada um não lhes importa. Disseram-me que todas as religiões deviam estar sobre o mesmo tecto. Mulçumanos, judeus, protestantes, hindus, católicos e e todas as restantes religiões deviam estar sob o mesmo tecto..."

"Quando eu tinha dois anos, o médico disse à minha mãe que eu era «atrasada».
Em bebé, a minha mãe notou que eu parecia estar sempre num mundo à parte. Consigo lembrar-me de estar deitada num berço, num cesto grande, e de ver a minha mãe debruçada sobre mim. À volta dela , via seres maravilhosos e brilhantes, de todas as cores do arco-íris. Eram muito maiores do que eu mas mais pequenos do que ela, mais ou menos do tamanho de uma criança de três anos. Estes seres flutuavam no ar como penas e lembro-me de esticar as mãos para lhes tocar, mas nunca conseguia. A luz fantástica destas criaturas fascinava-me. Naquela época, não percebia que via coisas diferentes das outras pessoas. Foi apenas muito mais tarde que eles me disseram que eram anjos..."
CAPÍTULO II (Os Guardiães):

sábado, 28 de maio de 2011

Tia Adgina

Tia Adgina.
Mulher forte. Mãe no sentido mais amplo da palavra.
Observa mais do que fala. Mas quando fala, em poucas palavras e suavemente diz o que é preciso. Nunca é rude, mas sempre firme!
Decidida, sábia, conselheira. Mãe.
Tão forte sempre! Com seu jeitinho sutil encaminha todo seu clã pelos caminhos que ela brandamente vai mostrando.
Quantas vezes seus braços se abriram para àqueles que seus filhos trouxeram à sua casa? perdi a conta!
Tia, para mim a senhora é ETERNA.
Sua presença é ainda tão necessária! É tão cedo tia! Nem tive tempo de me despedir!
Por que a senhora quis ir? Não sabia que era nossa árvore frondosa, onde todos nós tínhamos sombra a sua volta?
Minha tia querida. Tantas vezes comparei-a com minha mãe. Em meu coração adotei-a como tal.
Eu não contava com ESSA viagem assim, tão breve!
Sei que realizou sua missão entre nós com êxito.
Tão amada. Tão querida.
Vai estar sempre em minhas melhores lembranças!
Quero que esteja feliz onde está. Sei que está bem.
Vou sentir muitas saudades.
Eu nunca lhe disse, mas a senhora já devia saber: Eu a amo muito.


Irlanda, Abril de 2011.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)


E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda -
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho – Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem - Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços.”
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro Serás para mim o unico no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor. . . eu creio que ela me cativou ...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra ...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom ! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo?
- Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo ...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos, Se tu queres um amigo, cativa-me !
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva.
- Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto ...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração ... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa, É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias !
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah ! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse ...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar ! disse o principezinho.
- vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada !
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ser Brotinho (Paulo Mendes Campos).

(Texto sempre atual... "brotinho", "legal", "o cara" "a patricinha","fixe"(em Portugal),  ou como queiram denominar, são apenas neologismos para no fim das contas, qualificar o antigo "brotinho"!!!  Passaram-se alguns anos desde a publicação deste texto, mas a essência do ser "brotinho" continua a mesma. Creio que cada um de nós conhece um "brotinho" da vida, se é que já não foi ou é um!!") Segue o texto:

Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.
Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.
É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.
Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.
É telefonar muito, estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.
Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.
É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.
Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.
Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.


Texto extraído do livro “O Cego de Ipanema”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 15.